O Segredo dos vendedores de sucesso
Muita gente da minha geração cresceu ouvindo dizer que vendedor bom era aquele que “empurrava até mesmo geladeira para esquimó”. Ou então, que “concorrente bom era concorrente morto”. Se pegássemos esses dois “pensamentos” e os batêssemos no liquidificador, teríamos algo mais ou menos assim: “Todo cliente é burro e nasceu para ser enganado”.
Foi-se o tempo em que se acreditava que um bom vendedor vendia qualquer coisa para qualquer um. Tal mito, que imperou na cabeça de muita gente durante algumas décadas, acabou distorcendo os valores daquilo que podemos chamar de “real competência de vender”, formando ao longo dos anos um verdadeiro exército de repetidores de scripts e seguidores burocráticos.
A sociedade hoje está muito mais complexa, com consumidores/compradores conscientes dos seus direitos e da realidade chamada concorrência. Tais fatores ampliaram seu senso crítico e, consequentemente, forçaram os profissionais de vendas e de atendimento a se reinventarem também, honrando no mundo dos negócios o princípio de Darwin, onde “sobreviverão não os mais fortes, mas os que se adaptarem mais rápido”.
O tempo de reinado absoluto de uma novidade dura até o surgimento do seu primeiro concorrente, muitas vezes parido através do benchmarking cerrado do original. Com tecnologias cada vez mais iguais, sejam elas aplicadas a bens de consumo ou serviços, cada vez fala mais alto a necessidade do profissional de vendas desenvolver as capacidades humanas de envolvimento, comunicação e persuasão, não no sentido de “enrolação”, e sim nas capacidades de apresentar caminhos seguros e de dar a mão ao cliente durante seus primeiros passos no mundo daquilo que vendemos.
A compreensão do cliente torna-se o principal diferencial competitivo de empresas e de profissionais. O principal reflexo dessa necessidade está na quantidade de SACs, ouvidorias, ombudsmen e outros canais abertos para a manifestação, setores que deveriam estourar um champagne a cada nova solicitação pós-venda. Afinal, é melhor que o cliente se manifeste conosco do que com nosso concorrente, certo? A redução desse tipo de canal de comunicação pós-vendas vai acontecer conforme desenvolvermos nossa capacidade de ouvir, de observar e de servir no pré-vendas.
Quando forçamos a venda, não dando fôlego para o raciocínio do cliente, não corremos o risco de “vender qualquer coisa a qualquer um”, mas de vender alguma coisa para a pessoa errada, apoiando-se mais na fraqueza do que na força do cliente. Nesse caso, o “mérito” da venda estará mais na sua predisposição excessiva do cliente, que consome para preencher buracos emocionais, do que na capacidade de persuasão positiva de quem vende. Com clientes assim, uma prateleira bem arrumada é tão ou mais competente que o vendedor. O problema: consumidores com este perfil tendem ao arrependimento, relacionando a compra mais à frustração do que à realização, muitas vezes antes mesmo de chegar em casa.
Para que isso não ocorra, sugiro utilizar a boa e velha persuasão, que possibilita identificar as necessidades específicas do cliente e apresentar caminhos consistentes para ela.
A persuasão mostra cenários que promovem o encontro da necessidade real com uma solução, que pode ir do pertinente ao surpreendente. Soluções que elevam a autoestima do cliente, satisfazem sua inteligência e garantem futuras experiências de consumo.
O bom vendedor deve, além de efetivar a venda, transformá-la numa conquista para o cliente, seja ela emocional, racional ou ambas. A grande venda possui no seu desdobramento um processo mais consultivo do que “empurrativo”. Ela não se preocupa em contornar objeções, em desarmar o cliente, mas sim em torná-lo mais seguro, forte e confiante de estar fazendo um bom negócio, um negócio conosco.